terça-feira, 21 de julho de 2009

LUA - 40 anos

Lembro-me bem, dessa noite acordada!
Passada num 2º andar de uma pequena rua, junto ao Alto de Stº Amaro!
Estudante em fim de curso em Agronomia e marinheiro em formação no Alfeite.
Vem-me à memória a mobília da sala, um grande vaso junto à janela, com uma hera que se elevava até quase ao tecto e no canto a mesinha com a televisão em cima! Um luxo para a época!
D. Josefinha, dona da casa, alugava um quarto a estudante. Foi a minha casa muitos anos. Já era da família.
Viúva, perdera o marido há pouco tempo. Era marceneiro na Carris. Guardo com carinho um tabuleiro de xadrez, feito em madeira escura e clara que me ofereceu. Gente boa e amiga!

D. Josefinha, nessa noite, fez jantar alargado, pois uns primos e sobrinhos queriam ver a anunciada transmissão da chegada do homem à lua! Fui buscar umas garrafas de vinho e também jantei. Frango com coentros!!! Bati agora palmas à minha memória!

Bem jantados, fomos tomando posições para a grande jornada. Chegaram também uns vizinhos do andar de cima! Estava completa a plateia!

Será mesmo verdade, Sr. Engenheiro? perguntava D. Josefinha, que acreditava mais em mim que nos primos... (pudera, naquele tempo engenheiro, era engenheiro!), tentando conter as expectativas altas dos sobrinhos.
Os primos lá comentavam os sputniks, as aventuras dos russos...
que sempre andaram à frente! dizia o vizinho de cima!!

Lá lhes falei também do discurso de J. Kennedy em 1961, e da sua determinação nesta conquista. Claro que a conversa passou para a tragédia de Dallas.

As imagens paradas do Centro Espacial já chateavam a malta!
De vez enquando tremiam, e um sobrinho mais atrevido dizia: não se vai ver nada! Merda da televisão!!
Uma ofensa para a D. Josefinha, que além da ameaça de rua, lembrou o que se estava a pagar! E apontou para o mealheiro que estava ao lado da televisão e que servia para ao fim da noite, quem visse os programas, devia deixar lá dez tostões!!!

Sei que a conversa continuou, comentou-se as grandes evoluções que se iam passando no mundo, até se falou do Maio de 68. Mudanças! (Tanto que nelas falei com meu amigo da Carris!!)

E a noite avançava!
Atentos também às difíceis e complexas traduções que o José Mensurado ía fazendo para entreter o pessoal!

D. Josefinha foi fazer chá, e comemos bolinhos que os primos tinham trazido de um café ali do Calvário! E a noite avançava!

Enfim o nervosismo da plateia ía aumentando!

Olha um pé na escada! Está a descer!!

Será? perguntava a D. Josefinha. Nossa Senhora os acompanhe!!

E FOI!!!!

"Um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade"

Bateram-se palmas!! E, nessa noite, ninguém pagou dez tostões.

3 comentários:

A.M. disse...

Amo ler estas histórias.

Para quando a noite de histórias que já pedi?

:)

Anónimo disse...

Adorei a história.
Um pouco mais nova mas também me lembro dessa noite em minha casa.

Anónimo disse...

já me esquecia sou a LP